quarta-feira, 29 de maio de 2013

...Alma Académica

Não é por praxe que escrevo isto, é por gosto da tradição, do velho, do que é mantido e cuidado pelos anos que passam. Quem me conhece bem sabe que para mim o passado é algo bonito, peças que contam história, ou coisas que viram a vida correr, porque para mim até a parede de um castelo ou de um mosteiro é bela de só de imaginar a vida que esta viu, de Reis a ditadores, passando pelas grandes guerras, e chegando a mim, ao toque da minha mão leve, na sua pele velha e cansada. Uma vez em tom de brincadeira dissemos -eu e um colega meu- que "Devíamos viver cem anos, mas experimentar cada década passada", queríamos passar pelos anos de austeridade da 2º guerra mundial, pela primeira emissão televisiva, pela ditadura, pela revolução dos cravos, pelas bocas de sino, pelas emissões atentas do festival da canção, pela entrada de Portugal na CEE, e ainda ter "tempo" para viver o que nos restava.

Porém não é de factos históricos que sinto a necessidade de falar neste momento. Quero dizer, com convicção, que a minha alma é preta! Preta da cor da minha capa que traço com o maior carinho e orgulho. Orgulho de manter a tradição, a tradição de aspecto velho, e seja velho aqui, algo com idade, maturidade, e sensatez.

Toda a tradição do preto, a capa sobre os ombros, a pasta, a semente, a nabiça, o grelo, as fitas! Tudo isto é algo que dá saudade. E a mim dá-me saudade e ainda não as tive a todas, curioso, mas é verdade, é uma espécie de nostalgia de algo que não passou. Mais do que praxe, dá-me vontade de proteger da tradição como se de uma planta se tratasse, jovem, a qual se estaca e se resguarda das geadas. Cuidar da tradição e não a deixar sujar por "praxes" de miúdos que no crânio não têm mais nada senão.. miúdos. Mas eu não sou anti-praxe, muito pelo contrario, tenho é plena noção de que quem a faz é que a leva a maus portos, que a deixa pelas ruas da amargura.

Tradições são pedaços de história viva que resistem aos tempos e se projectam no futuro. Acções, princípios, costumes, objectos, que se tornam intemporais por pessoas que por gosto, por entretenimento, por realização pessoal, gastam parte do seu tempo a tornarem-se felizes e a tentar contagiar desconhecidos.

A felicidade somos nós que a escolhemos, e nesta vida rotineira de aviário, que nos cria e "engorda" para estarmos prontos para o mercado de trabalho, se não formos nós a buscar entusiasmo e a criar metas por puro capricho, somos comidos pela velocidade da vida, e morremos para o que nascemos- crescer, estudar, trabalhar, proliferar, e morrer.



Aconselho o cd "Hora Torguiana" do grupo de fados do ISEP